Em 8 de junho de 2022, por volta das 23h10, a advogada Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, de 40 anos, caiu do oitavo andar do edifício onde residia, localizado no bairro São Bento, região Centro-Sul de Belo Horizonte, Minas Gerais. Inicialmente, sua morte foi tratada como suicídio. No entanto, investigações revelaram que ela foi vítima de homicídio, tendo como principal suspeito seu namorado, o advogado Raul Rodrigues Costa Lages.
Carolina era uma advogada bem-sucedida, mãe de dois filhos, Vítor e Lucas, e filha de advogados renomados. Em 2021, iniciou um relacionamento com Raul, que logo se revelou abusivo. Amigos e familiares notaram que Carolina começou a se afastar de seu círculo social, além de relatar comportamentos controladores e agressivos por parte de Raul. Mensagens trocadas entre Carolina e suas amigas revelam que ela sofria ameaças constantes. Uma dessas mensagens dizia: “Eu não quero mais contato com ele. Eu tô cansada de ameaça e tudo que ele fala comigo é com tom de ameaça.”
Ao longo do relacionamento, Raul passou a exercer domínio sobre Carolina, inclusive financeiramente. Ele a convencia a pagar suas despesas, incluindo sua academia e outras contas pessoais. Além das ameaças verbais, relatos de amigos e familiares apontam que em uma ocasião, Raul agrediu fisicamente Carolina segurando-a pelo pescoço durante uma briga.
Apesar das tentativas de término, Carolina sempre voltava atrás devido às chantagens emocionais e perseguições constantes do namorado. Quando terminava o relacionamento, Raul insistia incessantemente, ligando de diversos números diferentes e seguindo Carolina de carro para monitorar seus passos.
Três meses antes de sua morte, Carolina fugiu para o México em uma viagem com as amigas para tentar se afastar de Raul. Em um e-mail enviado a si mesma, ela escreveu: “Tenho convicção de que me faz mal, mas eu preciso de forças para acreditar nisso.” No mesmo e-mail, Carolina relatou que Raul era possessivo e controlava até mesmo com quem ela conversava.“Ameaçou se matar se eu terminasse dizendo que a vida dele não tinha sentido sem mim, que os filhos dele e as outras coisas são secundárias. Fingiu que tomou muito remédio e que estava inconsciente, me fazendo chamar o Samu uma vez. Quando falo em terminar, ele tranca a porta e faz chantagens psicológicas, dizendo que vou ter a maior prova de amor, que ele vai demonstrar pagando com a vida dele”.
Apesar da fuga, Carolina acabou reatando com Raul quando voltou ao Brasil. As brigas, no entanto, continuaram. Poucos dias antes de sua morte, Carolina descobriu uma traição e pediu que Raul saísse de seu apartamento. Irritado, ele apontou o dedo para ela e disse que acabaria com sua vida.
Na noite do crime, os filhos de Carolina saíram para assistir a um jogo de futebol. Pouco depois, vizinhos relataram ter ouvido sons de discussão e barulhos altos vindos do apartamento. Raul desceu minutos após a queda de Carolina, vestindo roupas diferentes das que usava anteriormente e carregando duas sacolas aparentemente pesadas. As câmeras de segurança revelaram que ele mentiu ao afirmar que estava no elevador no momento da queda. Ele permaneceu no apartamento e, segundo a perícia, teve tempo para limpar vestígios da cena do crime, lavar lençóis e se desfazer de provas.
A tela de proteção da varanda foi cortada de forma precisa, sugerindo premeditação. Uma testemunha relatou que, antes da queda, ouviu uma voz feminina dizendo: “Vai. Eu não preciso mais te aguentar, aguentar isso ou aguentar você.” O comportamento de Raul ao ver o corpo da namorada também levantou suspeitas. Segundo o porteiro do prédio, Raul reagiu com frieza e se preocupou em se livrar das sacolas que carregava ao invés de checar se Carolina estava viva. Ele deixou o prédio apressado ficando no carro por alguns minutos e só retornou quando percebeu a chegada da ambulância. Para a família de Carolina, se a polícia tivesse solicitado as imagens das câmeras de segurança na mesma noite, Raul poderia ter sido preso em flagrante.
A investigação revelou que Raul tinha histórico de agressões contra mulheres. Em 2018, uma ex-companheira registrou um boletim de ocorrência contra ele por ameaça de morte e solicitou medida protetiva. Ainda assim, ele permaneceu solto. Apenas em novembro de 2024, dois anos após o crime, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais aceitou a denúncia do Ministério Público e tornou Raul réu por homicídio triplamente qualificado, incluindo feminicídio. O julgamento ainda não foi marcado e Raul responde ao processo em liberdade.